quinta-feira, 18 de março de 2021

Sem assistência psicossocial, grupo de voluntários cria projeto para promover saúde mental no Marajó


A iniciativa já conta com a atuação de mais de 20 voluntários.

Inconformados com a ausência de assistência psicossocial municipal, um grupo de moradores de São Sebastião da Boa Vista, no arquipélago do Marajó, criou o 'Projeto CAPS'. A iniciativa, que já conta com a atuação de mais de 20 voluntários, busca promover a saúde mental da população local.

A ideia de criar o projeto surgiu do promoter de eventos e Dj Júnior Martins, de 35 anos. Pai de duas meninas, sendo uma delas adolescente, Júnior ficou preocupado com o índice de casos de depressão e tentativas de suicídio que vem crescendo no município durante o período de pandemia, principalmente entre jovens.

"A cidade é pequena, não tem muito o que fazer, principalmente agora com o isolamento social, em que os jovens principalmente não podem sair de casa, ter uma rotina", disse o Dj.

Criado em março deste ano, o projeto 'CAPS' foi pensado como uma forma de tentar pressionar o município a criar um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), um serviço essencial que segundo moradores não é oferecido pela prefeitura. Ao todo, o projeto já conta com uma psicóloga, quatro assistentes sociais, uma psicopedagoga, dois pedagogos e um fisioterapeuta, além de outros voluntários que atuam no apoio.

Mobilizado por meio das redes sociais, o projeto tem sido a única assistência para muitos jovens de São Sebastião da Boa Vista, principalmente diante das incertezas e sentimentos gerados pela pandemia e isolamento social.

"A maioria são adolescentes de 14 a 16 anos que procuram a gente, muitas das vezes eles só precisam desabafar, saber que tem alguém que ouça eles e entenda tudo pelo o que estão passando", disse Júnior Martins.

Em cinco dias de atendimentos, oito jovens já foram atendidos pelo projeto e a demanda só vai crescendo. "Com a nossa equipe, não vamos dar conta da demanda, que vem aumentando. Precisamos forçar a prefeitura a oferecer o serviço da Caps, que é essencial. As vidas não esperam, elas vão aos poucos se perdendo", falou o promoter.

De acordo com o Conselho Federal de Farmácia, o uso de antidepressivos e estabilizadores de humor cresceu 17% no Brasil. Só no estado do Pará, o crescimento foi de 25%. O município de São Sebastião da Boa Vista tem uma população de cerca de 26 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e possui Indíce de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,558, considerado baixo, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Para o psiquiatra Kléber Oliveira, o contexto da pandemia intensificou o surgimento de transtornos mentais. "A gente teve um aspecto de vida completamente mudado de uma hora para a outra e isso fez com que muitos despertassem acomodações ou formas de enfrentamento que nem para todo mundo vai ser positiva. Então, isso levou a um aumento do número de transtornos mentais. Quem já tinha transtornos, piorou e quem nunca tinha tido nenhum sintoma psiquiátrico, passou a ter. Dentre as patologias que mais apareceram nesse período foram quadros depressivos, quadros ansiosos, distúrbios de sono, problemas com o uso de álcool e também questões relacionadas à relacionamentos", disse.

Atendimento em São Sebastião

A Prefeitura de São Sebastião da Boa Vista informou em nota que possui uma rede de atendimentos a casos de saúde mental, que engloba as Secretarias de Saúde, de Assistência Social e Educação e de forma articulada, funcionam cada um com suas respectivas estruturas, como os CRAS e CREAS e os serviços psicossociais nas escolas.

Sobre o CAPS, a administração pública informou que o município foi beneficiado pelo governo federal com a instalação do centro, porém o prédio, que já deveria estar funcionando, não foi concluído pela gestão anterior. A Prefeitura disse que está tomando as providências cabíveis.

Sobre os casos recentes, disse que a rede está atendendo e mapeando os casos para garantir atendimento já que nenhum deles era paciente cadastrado. As famílias locais que precisem desse atendimento devem procurar a Secretaria de Saúde.

Fonte: G1 Pará

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